O declínio vertiginoso no volume de deals ao longo dos últimos dois anos estabilizou no início de 2024 e os fundos de buyouts parecem caminhar para terminar o ano de forma estável em relação a 2023. Por outro lado, a maioria dos fundos ainda patina para levantar novo capital, indica o mais recente relatório global de Private Equity da Bain & Company.
Apesar de 2024 apresentar deals com valores próximos aos dos anos pré-pandemia, o volume de dry powder acumulado atualmente segue muito acima dos padrões históricos. Os valores de deals neste ano devem corresponder aproximadamente ao total de 2018, mas o volume de dry powder disponível corresponde a mais de 150% do que havia naquela época.
A Bain & Company entrevistou mais de 1.400 players do mercado para saber quando eles esperavam que a atividade se recuperasse. Cerca de 30% disseram que não veem sinais de recuperação até o quarto trimestre e 38% previram que isso levaria até 2025 ou mais. No entanto, discussões informais da consultoria com general partners (GP) em todo o mundo sugerem que os canais de negociação já começam a ser restabelecidos e muitos vêem indícios de recuperação no setor.
“A indústria de PE parece já ter passado de seu pior momento. É esperado que o volume de transações de 2024 seja equivalente ou superior ao de 2023 e temos um montante significativo de dry powder disponível. O desafio agora é obter mais saídas para que os investidores voltem a se capitalizar e participar de novos fundos, o que vem ocorrendo de forma limitada em razão dos baixos valores distribuídos para capital realizado (DPI). Encontrar maneiras de gerar DPI estrategicamente em todo o portfólio está se tornando um ponto de diferenciação competitiva”, esclarece Gustavo Camargo, sócio e líder da prática de Private Equity da Bain na América do Sul.
Investimentos
A Bain projeta que o valor global de deals deva fechar o ano em US$ 521 bilhões, um aumento de 18% em relação aos US$ 442 bilhões registrados em 2023. No entanto, o ganho é atribuível a um valor médio de negócio mais alto (que passou de US$ 758 milhões para US$ 916 milhões), e não a mais negócios. Até 15 de maio, o volume de deals caiu globalmente 4% em uma base anualizada em comparação com 2023. O mercado ainda está se habituando ao fato de que as taxas de juro podem permanecer mais elevadas durante mais tempo e que as avaliações obtidas num ambiente fiscal muito mais favorável terão, em última análise, de ser ajustadas.
Saídas
A pressão sobre as saídas é ainda maior. O número total de saídas apoiadas por aquisições está essencialmente estável numa base anualizada, enquanto o valor de saídas tende a terminar em US$ 361 bilhões, um aumento de 17% em relação ao total de 2023. Um dado positivo, mas que ainda assim posiciona 2024 como o segundo pior ano em valor de saída desde 2016.
Um ponto de otimismo é a reabertura do mercado de ofertas públicas iniciais (IPOs), desencadeada pelo aumento das ações nos últimos seis meses, mas a desaceleração geral das saídas está tornando a vida dos GPs mais complicada. Uma análise da série de fundos das 25 maiores companhias de aquisição mostra que o número de empresas nas carteiras duplicou na última década, enquanto as altas taxas de juros aumentaram os riscos de manter um ativo por mais tempo.
Cada dia de espera leva a questionamentos importantes: vale a pena correr o risco de alienar os LPs, que estão cada vez mais ávidos por distribuições, em busca do próximo aumento de múltiplos? Como isso pode afetar o relacionamento e a capacidade de arrecadar o próximo fundo?
Captação de recursos
Para a indústria em geral, e especialmente na área de aquisições, o número de fundos fechados continua a cair vertiginosamente à medida que os LPs concentram novos compromissos numa faixa cada vez menor de gestores de fundos. Nas aquisições, os 10 maiores fundos fechados absorveram 64% do capital total levantado, e o maior deles (o fundo EQT X de US$ 24 bilhões) respondeu por 12% desse total. Hoje, pelo menos um em cada cinco fundos de aquisição está fechando abaixo da sua meta e é comum que os fundos não cumpram esses objetivos em mais de 20%.
Além disso, a captação de recursos não se recupera imediatamente quando as saídas e as distribuições melhoram. Normalmente são necessários 12 meses ou mais para que um aumento nas saídas produza uma reviravolta nos totais de captação de fundos. Isso significa que, mesmo que as negociações sejam retomadas este ano, poderá demorar até 2026 para que este setor realmente melhore.
Para se adaptar ao ambiente atual, a Bain & Company recomenda quatro passos que vão ajudar a compreender como os LPs realmente veem o seu fundo e traduzir esses insights em desempenho mais forte e posicionamento de mercado mais competitivo.
Avaliação: identificar de forma clara como o fundo se apresenta ao mercado ‒ não o que os LPs dizem e sim o que eles realmente pensam. Para entender o que precisa ser ajustado, é imprescindível obter insights precisos sobre o que realmente importa aos investidores estratégicos na escolha de um fundo.
Portfólio: analisar onde está o valor dentro do seu portfólio e avaliar como ações individuais se somam ‒ e se o conjunto está atendendo às métricas específicas que os LPs valorizam. Também é fundamental implementar a governança correta para tomar decisões em relação ao momento de saída ou à alocação de recursos.
Criação de valor: para o bem ou para o mal, a expansão dos múltiplos tem sido um fator-chave do desempenho há anos. Contudo, em um ambiente de taxas elevadas, o foco se torna a margem de lucro e o crescimento de receita. Recursos para impulsionar o desempenho, o acompanhamento eficaz do portfólio e a governança também são críticos para a criação de valor de forma holística e tomar decisões que equilibrem os melhores interesses da empresa como um todo.
Relação com investidores: desenvolver os movimentos comerciais certos para vender a sua narrativa. Isso significa segmentar o mercado por “cliente”, determinar níveis de compromisso e conceber estratégias direcionadas. Uma boa taxa de renovação é de cerca de 75%, portanto, mesmo para os principais fundos, há quase sempre uma lacuna a preencher e a necessidade de conquistar novos LPs.
A prioridade no mercado atual é demonstrar aos LPs que a sua companhia é uma administradora responsável, com um plano disciplinado e racional para gerar retornos e distribuir capital no prazo. Não há porque esperar que o mercado fique mais fácil com a volta do capital privado. A captação do próximo fundo depende de um plano para se tornar mais competitivo e provar isso aos investidores agora.