Estamos a poucas semanas de um dos períodos mais intensos de consumo do ano: a Black Friday. A data, criada nos Estados Unidos, é sempre comemorada no dia seguinte ao Dia de Ação de Graças e tem como objetivo os preços baixos em todos os setores. Embora muitos consumidores aproveitem o período para fazer uma compra planejada há muito tempo, existem também muitas feitas por impulso, levando ao consumismo desenfreado. Essa atitude pode fazer muito mal para o bolso, o psicológico, mas também para o planeta, principalmente quando são realizadas junto a empresas cuja produção não é ambiental e nem socialmente responsáveis e sustentáveis.
Na contramão desse cenário, existem negócios que buscam inverter essa lógica e gerar impactos positivos a partir de suas atividades, inclusive ajudando a preservar os biomas e a apoiar produtores e comunidades tradicionais locais em causas diversas e extremamente relevantes. “Acreditamos que há a necessidade de existir um consumidor mais consciente o ano inteiro. O planeta é finito, assim como o nosso corpo, então a gente precisa trabalhar em consumir produtos mais sustentáveis e que valorizem esse caminho do olhar social e desse comprometimento ambiental”, destaca Tainah Fagundes, conselheira da Associação dos Negócios de sócio-bioeconomia da Amazônia (ASSOBIO), uma das principais organizações que representa os pequenos e médios empreendedores de impacto da Amazônia brasileira.
Conheça marcas para manter rotina sustentável durante o ano
Para incorporar o consumo consciente no seu dia a dia, o primeiro passo é priorizar marcas com compromisso socioambiental e que promovam impacto positivo, indo além das compras pontuais. “Consumir é um ato político. Quando tomamos a decisão de comprar de uma empresa dentre tantas opções disponíveis, estamos também ajudando a definir que tipo de negócio deve continuar existindo. Por isso, cada vez mais consumidores estão se preocupando não apenas com o que compram, mas de quem estão comprando”, destaca Daniel Cabrera, cofundador e diretor-executivo da Vivalá – Turismo Sustentável no Brasil, certificada pelo Sistema B com a maior nota do setor de turismo no país.
- Turismo sustentável
É possível ser extremamente consciente também em suas viagens e experiências. Ao optar por uma viagem de Turismo Sustentável, o viajante tem a oportunidade de imergir em biomas, culturas e modos de vida diferentes e engrandecedores ao mesmo tempo em que contribui com o planeta pela conservação de áreas naturais, compensação de carbono, pagamento juntos da rede de fornecedores envolvidos, entre outras tantas ações . A Vivalá é referência no setor, sendo uma empresa carbono zero, certificada pelo Sistema B e com 16 prêmios e reconhecimentos de organizações como ONU Meio Ambiente, Ministério do Turismo e Embratur por conta de sua abordagem socioambiental positiva.
As expedições acontecem dentro de unidades de conservação brasileiras, áreas naturais protegidas, contribuindo com a preservação dos biomas da Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal, em parceria com comunidades tradicionais indígenas, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas e sertanejas. Ao mesmo tempo, suas culturas e saberes ancestrais são preservados e oportunidade de emprego e renda são gerados ao trabalhar com pousadas familiares, restaurantes da região, guias locais, entre outros.
O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, uma cultura absolutamente única e uma necessidade muito grande de desenvolvimento social. Durante a realização de um roteiro da Vivalá, os viajantes são colocados à frente de diferenças culturais, como: mudança da língua, a forma de se vestir, a culinária, as práticas e as danças.
Durante todo o mês de novembro, a Vivalá promove a Orange November, com cupons de desconto que chegam a R$ 1.280.
- Calcinhas absorventes sustentáveis
Uma pesquisa do Instituto Akatu revelou que uma pessoa que menstrua pode gastar até 15 mil absorventes descartáveis – compostos por cerca de 90% de plástico – durante a vida, sendo que a grande maioria acabará em aterros sanitários. Para reverter esse quadro, a Pantys é uma marca que realiza a venda de calcinhas absorventes e coletores reutilizáveis. De acordo com a marca, em quatro anos utilizando os produtos, é possível reduzir o lixo produzido em 27,3 kg, por pessoa.
Para a fundadora e CEO da Pantys, Emily Ewell, a chegada da época de presentes é uma ótima oportunidade para realizar escolhas sustentáveis. “Nestes momentos comerciais do ano, principalmente a Black Friday e a chegada do Natal, temos que pensar em consumir produtos e marcas mais conscientes que geram um impacto maior para as pessoas e para o planeta. No nosso caso, até mesmo fazer uma grande redução de lixo gerado. Se formos pensar em presentes, os produtos são incríveis, tanto para compartilhar, quanto para pensar que nossas escolhas são mais sustentáveis”, destaca.
As calcinhas e os coletores menstruais da Pantys estão a partir de R$ 59 e os absorventes reutilizáveis e feitos de tecido R$ 52, podendo durar cerca de 100 lavagens.
- Camisetas sociais
Outra empresa focada na sustentabilidade e que pode ser uma maneira de presentear ou utilizar os produtos, é a Chico Rei, que comercializa camisetas e acessórios com impacto socioambiental. “Na Chico Rei, entendemos a compra consciente como uma troca bacana entre as partes envolvidas, especialmente o time, a comunidade e o meio ambiente. Dedicamos atenção total a políticas que gerem o menor impacto possível ao meio ambiente, como o uso zero de plástico no envio de pedidos aos nossos clientes, a política de lixo zero em nossas fábricas, fornecedores com insumos rastreáveis e certificados, e a fabricação de produtos veganos”, explica Bruno Imbrizi, CEO da Chico Rei.
A marca possui, além do impacto ambiental, o social, pois grande parte da produção ocorre dentro do sistema prisional, em uma penitenciária masculina, onde os ofícios da costura são ensinados e os detentos contratados. “Quando em regime semi aberto, contratamos esses profissionais para a nossa fábrica, e em liberdade, completamos um ciclo completo de ensino e ressocialização. Além disso, damos suporte a diversos projetos sócio-ambientais”, ressalta Bruno. No site da Chico Rei há uma página específica para explicar o movimento.
Todas as camisetas, com estampas geeks, de cinema, brasilidades, entre outras, estão R$ 37,90 e o site inteiro está em promoção.
- Ingredientes naturais
Na área da alimentação também há produtos sociais que podem ser inseridos no dia a dia. A Manioca é uma marca de alimentos que fabrica temperos e ingredientes para refeições e tem como fonte de inspiração a cultura e a sociobiodiversidade da Amazônia. “Todos os nossos produtos são produzidos utilizando uma cadeia produtiva da sua subiodiversidade e tendo o trabalho com populações mais vulneráveis, que são as únicas que mantêm, tradicionalmente e culturalmente, o cultivo dos ingredientes que usamos no nosso trabalho”, cita Paulo dos Reis, sócio-diretor da Manioca.
Paulo ainda destaca que onde os produtos são vendidos, seja na internet ou presencialmente, não é tão importante quanto a forma que eles são produzidos e o impacto que fazem em suas cadeias. “O nosso produto pode contribuir para a preservação de uma área de floresta, apoiar famílias vulneráveis na Amazônia e seus modos de vida tradicionais e impactar na preservação da floresta. Então, apoiar cadeias produtivas da sociobiodiversidade da Amazônia, significa também apoiar populações que, por sua vez, apoiam a manutenção da floresta em pé”.
Produtos entre farofas, molhos e grãos, custam a partir de R$ 16,90. O Tucupi, caldo de legumes, é feito da mandioca, que é nativa da Amazônia e fermentado – técnica que os indígenas utilizavam.
Apoie microempreendedores brasileiros
Além das grandes marcas com impacto e que comercializam seus itens na internet, há microempreendedores que realizam a venda de produtos, na grande maioria, artesanais e feitos de forma natural. Na comunidade ribeirinha de Santo Antônio do Tiririca, em Acajatuba (AM), a microempreendedora Sueula Andrade, fundadora da Cheiro da floresta, realiza a venda de cosméticos naturais produzidos por ela mesma. “Com as expedições de turismo sustentável, as vendas são boas, mas trabalho com todos que fazem turismo aqui no local. Acredito que quem compra os meus produtos participa da sustentabilidade e faz a renda girar em nossa região. Hoje eu consigo dar uma melhor forma de educação para meus filhos e também oportunidades que não tinha antes”, destaca.
Na mesma comunidade, ocorre uma oficina de doces feitos com frutas naturais da região, livres de conservantes. “Eu vendo os produtos que eu mesma produzo e artesanatos feitos pela minha família. A feira existe há seis anos e surgiu por meio das mentorias da Vivalá. Quando alguém compra um produto da Doce Amazônico, vai estar ajudando a economia local de nós ribeirinhos e, automaticamente, contribuindo com a minha família e na melhora do espaço das oficinas”, afirma Alessandra Vaz Ferreira, empreendedora.
Outra iniciativa apoiada pelo negócio social e que comercializa itens que impactam positivamente o meio-ambiente é a Biojoias Natureza Viva de Maguary, situada na Floresta Nacional do Tapajós, município de Belterra (PA). A microempreendedora Darliane Pedroso conta que gere uma oficina de artesanato que acontece uma vez no mês. Durante a atividade é explicado como é feita a coleta das sementes e a confecção. Ao final, os participantes podem fazer as suas próprias biojoias.
“Fazemos a produção e a vendas de pulseiras, brincos, anéis, colares, chaveiros e suporte de óculos. Todos são feitos com sementes naturais produzidas com linhas incineradas, argolas, ganchos e linhas de silicone. A oficina acontece há dois anos e somos um grupo de cinco mulheres e três homens. Com as vendas, podemos administrar as compras de mais materiais de artesanato e também ajudar na ampliação da nossa lojinha, além do apoio na renda dos lares”, descreve a microempreendedora.
Segundo Tainah, conselheira da Assobio, adquirir um item de produção local beneficia diretamente a região. “Quando você compra uma jóia, você não está levando só um produto um colar, um anel ou um brinco, você está contribuindo diretamente com a sub-economia da Amazônia, com comunidades extrativistas e com grupos de mulheres ou de outros produtores. Dentro de uma data tão consumista, adquirir produtos mais conscientes e sustentáveis, reforça e nos leva a um caminho com mais propósito”.