O segundo e último dia da Conferência Ethos 360° São Paulo, um dos principais eventos ASG (Ambiental, Social e Governança – ESG em inglês), realizado nesta quarta (18) e quinta-feira (19), no Pavilhão Bienal do Ibirapuera, na capital paulista, apresentou em seu painel de abertura palestra do ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho. Em participação junto com Andrea Álvares, presidente do Conselho do Instituto Ethos, o ministro abordou o papel da CGU na promoção da integridade e reforçou a importância de as empresas implementarem práticas éticas, além de detalhar as estratégias adotadas para prevenir a corrupção e as ações recomendadas para alinhar valores corporativos com padrões de integridade.
“A corrupção passou a ser tratada como um problema econômico. Ao mesmo tempo, ficou nítido que atuar apenas de forma punitiva não é suficiente. Por mais que se insista em aplicar punições, somente 2% ou 3% dos casos de corrupção envolvendo empresas são identificados. Verificou-se que é preciso adotar uma outra estratégia para disseminar na cultura empresarial os padrões de integridade esperados.” O ministro ressaltou, ainda, o êxito do Selo Pró-Ética, uma parceria entre a CGU e o Instituto Ethos, que tem como objetivo reconhecer e destacar empresas que adotam práticas de integridade, ética e transparência em suas operações.
Combate às Desigualdades
Na sequência, Laís Abramo, Secretária Nacional da Política de Cuidados e Família, participou do painel Política Nacional de Cuidados como ferramenta de combate às desigualdades e abordou as barreiras enfrentadas pelas mulheres para ter acesso e se manter no mercado de trabalho e destacou a importância da Política Nacional de Cuidados, uma agenda prioritária do Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Abramo explicou que “o tema do cuidado sempre esteve presente na vida de todas as pessoas, em especial mulheres, mas esse assunto só se tornou uma agenda pública há um ano, quando foram criadas duas secretarias para tratar desse tema”. Ela destacou que “muitas vezes as mulheres não conseguem entrar no mercado de trabalho por conta das suas responsabilidades com a casa e a família”.
Já o painel O uso responsável da IA e o combate às desigualdades buscou refletir sobre como a inteligência artificial pode ser utilizada de forma ética e responsável para promover a inclusão e reduzir as desigualdades. O debate contou com a participação de Clarice Tavares, coordenadora de Direitos Humanos da InternetLab, que afirmou que o algoritmo ainda reforça a discriminação de gênero. “Basta olhar quem é o cantor da primeira música da maioria das playlists: um homem. E os posts da população LGBT são menos propagados por trazerem palavras consideradas tóxicas pelos padrões dos algoritmos. É preciso ter mais diversidade na elaboração da tecnologia. Para evitar e mitigar esses vieses, precisamos investir em capacitação de pessoas e em tecnologia para mudar esse padrão”, completou.
Viviane Lisboa, coordenadora do Núcleo de Data Analytics na Prodam, lembrou que “a regulamentação de IA é importante para conseguir proteção de dados, transparência, segurança (com uso ético) e responsabilização dos atores”. E Rafael Miranda, professor e co-diretor do Centro de Excelência Jean Monet sobre Empresas e Direitos Humanos da FECAP, que completou o painel, finalizou: “O avanço da IA pode ser usado para a promoção dos direitos humanos e promoção da igualdade. É fundamental pensar em soluções colaborativas, multi stakeholders”.
Mudanças climáticas
O painel COP30 e Plano Clima Adaptação: O papel das empresas na redução da vulnerabilidade climática no Brasil tratou sobre a oportunidade que o Brasil tem a partir da realização do evento para reafirmar sua liderança na preservação ambiental e no enfrentamento dos impactos da mudança do clima, além de liderar pelo exemplo.
Inamara Melo, coordenadora geral de Adaptação à Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, destacou que “o Plano Clima é um esforço relevante do governo para consolidar ações climáticas, mas precisa do engajamento de todos. O combate às mudanças climáticas é uma agenda setorial e multiníveis, que precisa de um pacto setorial com muitos atores, entre eles governos, empresas e sociedade civil”. O painel contou ainda com as participações de Priscila Matta, gerente sênior de Sustentabilidade da Natura, e Felipe Saboya, diretor-adjunto do Instituto Ethos e mediador do debate.
Integridade empresarial
Já o painel O Setor Empresarial Brasileiro e o Avanço da Integridade Empresarial: Desafios e Perspectivas, oferecido pela Ypê, discutiu o avanço da integridade empresarial no Brasil, analisando como as empresas têm enfrentado desafios relacionados à transparência, ética e responsabilidade. Cristine Köhler Ganzenmüller, diretora de Integridade Privada da CGU, reforçou que “são muitos os desafios enfrentados, pois o tema de integridade vem em constante evolução. Um avanço muito significativo é a inclusão da pauta de Direitos Humanos na agenda da Integridade. A Lei Anticorrupção e a Lei de Licitações são outros avanços extremamente importantes”.
Pedro Rubião, diretor Jurídico, Conformidade, Relações Institucionais e Comunicação Externa na Ypê, pontuou que “a conduta ética é fundamental, porém, há um caminho longo para as empresas. É importante ressaltar que, sim, é possível atuar de forma ética e conseguir os resultados empresariais esperados. É preciso acabar com o mito de que empresas de capital fechado não podem avançar nesta agenda“. O painel contou ainda com as participações de Valéria Café, diretora-geral do IBGC, e Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos, como mediador.
A Crise do capitalismo e a necessidade de um novo paradigma econômico foi tema de um painel que abordou como os escândalos recentes de governança empresarial evidenciaram as falhas estruturais de um capitalismo focado no lucro a qualquer custo, levantando questões sobre a sustentabilidade desse modelo econômico. João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia, explicou que o lucro a qualquer custo é uma prática que persiste até hoje, mas já demonstrou ser insustentável. “As empresas precisam levar em consideração o investimento de impacto, que leva em conta não só o retorno financeiro, mas também o retorno social e ambiental”. Solon Neto, cofundador e diretor de notícias e audiência da Alma Preta, reforçou que esse comportamento é visto até mesmo no noticiário diário. “Falta diversidade até no noticiário. Os diferentes veículos noticiam sempre com o mesmo viés, para as mesmas pessoas”.
O debate contou ainda com a participação de Adila Nascimento, gerente de Finanças e Operações Estratégicas no Sistema B Brasil, e a mediação de Andrea Álvares, presidente do Conselho do Instituto Ethos.
Desconstruindo o racismo na linguagem
O painel Glossário às avessas: desconstruindo o racismo na linguagem apresentou uma proposta de desconstrução dos termos estruturais racistas, desenvolvida por Conselheiras Negras do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável (CDESS/SRI/PR) e por pesquisadoras do Grupo de Pesquisa Ativista Audre Lorde e do Coletivo Ativista de Psicanalistas Ativistas em Psicanálise, Educação e Cultura.
Mônica Veloso, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, ressaltou a importância de se definir o que é racismo e onde começa o assédio. “O espaço de trabalho também constrói linguagens discriminatórias e elas podem se tornar micro agressões”. Ela relatou o trabalho desenvolvimento com empresas para criar processos para mudar esse tipo de relação. “O racismo é uma violação do Direito Humano e as empresas precisam agir”, reforçou.
Rosangela Hilário, professora permanente do Mestrado Acadêmico em Educação/UNIR, lembrou que a língua brasileira é extremamente rica e não precisa de palavras racistas. “A mudança tem que começar na escola, com o pertencimento dos alunos negros e na tratativa dos professores. Temos que desconstruir termos estruturais do racismo como pressuposto de acesso à cidadania de fato”. O painel contou ainda com a participação de Alcieli dos Santos, formadora e diretora de Educação do Instituto Iungo, que explicou que o glossário será apresentado em várias frentes “para que sirva como ferramenta estratégica no combate aos termos estruturais que consolidam o racismo naturalizado”.
Insegurança alimentar e combate à fome
O painel “Insegurança Alimentar e Combate à Fome”, promovido pelo Assaí, abordou as múltiplas dimensões da insegurança alimentar no país. Kiko Afonso, CEO da Ação Cidadania, lembrou que é preciso dialogar com os vários stakeholders para que o Brasil saia do mapa da fome da ONU e chegue em 2030 como um país com zero fome. “Para a grande maioria das empresas o combate à fome (ODS 2) não é materialidade nos relatórios GRI. Por isso os investimentos saem do Marketing e não de ESG, com valores mais reduzidos”, disse.
Fábio Lavezo, gerente de Sustentabilidade e Investimento Social do Assaí, lembrou que as empresas têm um papel a cumprir nessa agenda de combate à fome. “A pandemia foi um momento de muita reflexão e aprendizado e formas de endereçar soluções”, afirmou. Além disso, explicou que a redistribuição de alimentos é mais obstáculo no combate à fome, já que atualmente menos de 10% dos alimentos não consumidos são doados no país. “Temos um entrave regulatório sobre a responsabilização dos alimentos produzidos e doados”, afirmou Lavezzo. A mediação do painel foi feita por Glaucia Oliveira, líder de Gestão e Pessoas e Desenvolvimento Organizacional do Instituto Ethos.
Destaque, ainda, para os painéis Voluntariado Corporativo: Fortalecendo a Cultura Organizacional e Gerando Impacto Social Estratégico, organizado pela Raízen, Diversidade, equidade e inclusão – O papel das empresas para uma sociedade mais equânime, oferecido pela Novelis, e Finanças Sustentáveis – oportunidades de negócios e financiamentos, realizado pelo Banco do Brasil.
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