A recente decisão da Meta de encerrar seu programa de verificação de fatos por terceiros e adotar um modelo semelhante ao “Community Notes” do X representa uma mudança sísmica no cenário da comunicação corporativa e midiática. Essa guinada, anunciada por Mark Zuckerberg, não apenas redefine o papel das plataformas de mídia social na disseminação de informações, mas também provoca uma série de reflexões sobre o futuro do mercado de comunicação corporativa.
O impacto dessa decisão no universo corporativo é multifacetado e potencialmente disruptivo. As marcas, que até então contavam com um sistema de verificação terceirizado para manter sua credibilidade online, agora se veem diante de um terreno mais instável. A ausência de fact-checkers profissionais pode criar um ambiente fértil para a proliferação de desinformação, obrigando as equipes de comunicação corporativa a repensar suas estratégias de monitoramento e resposta rápida. Em situações de possíveis crises de imagem, a comunidade polarizada pode interpretar os fatos com base apenas nas narrativas mais convenientes ao polo que se identificam, o que pode acarretar em problemas ainda maiores.
Essa nova realidade também exige uma reavaliação completa das estratégias de relações públicas e marketing. As empresas, conscientes dos riscos associados à veiculação de suas mensagens em um ambiente menos controlado, podem optar por diversificar seus canais de comunicação ou investir mais pesadamente em conteúdo próprio verificável. Há ainda o fantasma do êxodo de anunciantes, reminiscente da crise enfrentada pelo YouTube em 2017/2018, pairando sobre a Meta. Grandes marcas podem reconsiderar seus investimentos publicitários se perceberem que suas marcas estão sendo associadas a conteúdos questionáveis ou potencialmente danosos.
As implicações dessa mudança transcendem fronteiras, atingindo dimensões globais e locais. Há uma preocupação latente de que o impacto seja desproporcionalmente sentido no Sul Global, onde as políticas de moderação de conteúdo já eram consideradas deficientes. Esse cenário pode exacerbar problemas existentes de desinformação e manipulação da opinião pública em regiões mais vulneráveis. No âmbito regulatório, a decisão da Meta pode catalisar debates sobre a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa das plataformas de mídia social. No Brasil, por exemplo, isso pode acelerar as discussões em torno do PL 2630 e a análise de constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.
O fim das parcerias com verificadores de fatos profissionais é visto com apreensão por organizações como a Abraji, que temem um enfraquecimento significativo dos esforços de combate à desinformação, especialmente em períodos críticos como os pré-eleitorais. A flexibilização das restrições sobre conteúdos relacionados a temas sensíveis como imigração e gênero pode representar um retrocesso nas políticas de diversidade e inclusão, potencialmente abrindo espaço para a proliferação de discursos prejudiciais a grupos minoritários.
A decisão da Meta de alterar suas políticas de moderação de conteúdo gera um ponto de inflexão no mercado de comunicação corporativa. Enquanto alguns enxergam nessa mudança um passo em direção à liberdade de expressão, outros temem pelas consequências para a integridade da informação e a responsabilidade corporativa. O que é certo é que empresas e profissionais de comunicação terão que se adaptar rapidamente a esse novo cenário, desenvolvendo estratégias mais sofisticadas para proteger sua reputação e assegurar a confiabilidade de suas mensagens em um ambiente digital cada vez mais complexo e desafiador. Em tempos tão incertos, uma única certeza. Como sempre, o ecossistema da comunicação corporativa demonstrará sua resiliência e capacidade de adaptação, para atender a essa nova realidade.